CAPÍTULO OITO
O sol da Califórnia brilhava com toda força. A casa de Enrique Halloway na zona oeste de LA, escondida por um imponente portão de ferro e pela folhagem, imperava como uma grande ilusão, que mal se podia enxergar da rua.
— Então é esta. — Arthur estacionou o SUV alugado, apreensivo a respeito de cruzar a entrada.
— Sim, é esta mesmo.
O enigma final, pensou ele. Miguel estava acomodado no assento de criança, segurando seu pônei e balançando os pezinhos. Ele parecia saudável e feliz, uma criança bem cuidada e bem amada.
Estariam fazendo a coisa certa? Os telefones de Arthur, incluindo a linha do escritório, estavam realmente grampeados, e Sims e Hoyt eram mesmo do FBI. A Máfia e o governo. Em quem deveriam confiar? Enrique Halloway ou no Grande Irmão?
Arthur seguiu pela entrada, então se deteve antes que pudesse alcançar o interfone.
— Você acha que Halloway sabe sobre Sims e Hoyt? Que eles foram nos ver?
— É possível. — DLua procurou sua bolsa e a ajeitou sobre o colo. Ela hoje estava vestida no estilo country: jeans, botas de cowboy, uma camiseta branca com a gola enfeitada por uma fileira de sementes coloridas.
— E quanto a Sims e Hoyt? Você acha que eles sabem que nós estamos aqui agora?
— Provavelmente.
Será que todo mundo estava vigiando todo mundo, esperando para ver quem seria o primeiro a cometer um erro?
Arthur abaixou a janela e parou o carro ao lado do interfone, anunciando sua chegada.
Uma voz incorpórea lhes concedeu permissão para entrar ao mesmo tempo em que um portão eletrônico se abriu com um estalo.
A pista de entrada seguia até formar um semicírculo, terminando na frente da casa. Ou a mansão, supôs Arthur.
Lua não reagiu, mas ela já tinha estado aqui antes, no dia em que devolveu Sophia para a família.
Arthur estacionou ao lado de uma Mercedes preta.
— Halloway prestou alguma atenção em Miguel da última vez?
— Na verdade não. Ele estava totalmente ocupado com a filha. Por ter descoberto que ela estava doente.
— Como a mãe de Sophia está lidando com tudo isso? — indagou Arthur, dando conta de que Lua jamais mencionara a esposa de Halloway.
— Ela morreu há muito tempo. Ele tinha amantes — contou Lua. — Mulheres com as quais Sophia nunca se incomodou.
Arthur olhou adiante e avistou dois homens de terno escuro na porta da frente.
— Este é o nosso rei da Máfia?
— Não, este não é Halloway.
Mas, de qualquer maneira, ambos os criminosos acenavam para eles. Arthur não poderia ter imaginado uma coisa como esta nem que isso levasse mil anos.
Lua saiu do SUV e liberou Miguel do cinto de segurança no seu assento do carro. Arthur trocou olhares com o homem de ombros largos parado na porta.
Ele não era um mordomo ou um empregado comum. Este sujeito grandalhão e truculento era um segurança.
Miguel foi voluntariamente para os braços de Lua, mas um momento depois se atirou para Arthur.
— Ele quer ficar com o pai — disse Lua, com pouca firmeza na voz.
— Venha, parceiro. — Arthur pegou Miguel e afagou a face da criança com um beijo.
— Parece que você é um parente de Borges — disse o gigante para Arthur. — Muito mais do que ela. — O homem olhou atenciosamente para Lua, que parecia muito frágil com sua pele branca e seus cabelos claros.
— Eu acho que é a coisa Cherokee. — Quantas vezes aquele sujeito teve o nariz quebrado? Arthur não se importaria de acertar um soco nele.
Seguiram o homem para dentro da casa. Outro segurança apareceu, fazendo a luxuosa mansão parecer uma fortaleza.
O primeiro segurança, o boxeador, se aproximou de Christopher.
— Garoto bonitinho. Sua bagagem?
Pego desprevenido, Arthur trocou o bebê de posição.
— O quê? Não.
— Se importa se eu checar?
Diabos, claro que ele se importava. A revista foi rápida, mas ainda assim rigorosa. Quando o boxeador olhou para Lua, Arthur arreganhou os dentes.
— Se você sequer tentar revistá-la, eu vou entalar meu punho direto no fundo da sua garganta.
— Você até age como Borges. — Sua expressão bem-humorada desapareceu. — Uma pena que ele tenha estragado tudo. — Ele se virou para Lua novamente. — Eu até gostava do seu irmão.
— Eu ainda gosto dele.
— Claro, família é sempre família. — A não ser que te dêem uma facada nas costas. O que Micael aparentemente fizera com a Máfia, Arthur pensou, imaginando quanto tempo mais seu velho amigo poderia sobreviver naquela confusão.
O chefe chegou. De estatura mediana, cabelos louro-acinzentados e um terno bem coitado, Halloway adentrou a sala com seu jeito de empresário magnata.
Disse boa tarde para Lua, para Arthur ofereceu um apropriado aperto de mãos.
Enrique Halloway não era o que Arthur esperava. Ele não tinha aquela afetação pomposa do falecido John Gotti, o impetuoso gângster de Nova York, nem parecia com o modo de Marlon Brando em sua interpretação de um Dom da Máfia. Halloway simplesmente se apresentava como qualquer outro homem de negócios bem-sucedido de Los Angeles.
Entretanto, aceitou a mão que lhe fora estendida.
— Estou contente que tenha chegado na hora — disse Halloway.
— Você grampeou meus telefones — retrucou Arthur, tão educadamente quanto seu anfitrião.
— Grampeamos? — O chefe piscou, quase sorriu. — Não me recordo de ter feito uma coisa dessas. — Voltou-se para o boxeador. — E você, lembra?
O homenzarrão deu de ombros.
— Talvez Borges o tenha feito. Ele é o especialista em vigilância, não eu.
As feições de Halloway se endureceram.
— Minha filha está morrendo. Borges praticamente a enviou de volta para mim dentro de uma caixa. Você tem um filho muito bonito. — Deu uma olhada por cima dos ombros, atirando suas palavras para Arthur. — Eu tenho três filhos. Mas apenas uma filha
— Quando poderei ver Sophia? — Lua quis saber, abraçando Miguel apertado.
— Logo. — Halloway continuou estudando a criança e o coração de Arthur quase explodiu para fora do peito. Será que o gângster sabia? Sabia que Miguel era seu neto? O garotinho da sua filha?
Enfim, ele se virou para Arthur.
— Da próxima vez que você encontrar com Borges diga-lhe que eu reservei um quarto para ele no inferno.
— Não pretendo me encontrar com ele. Não somos mais amigos.
— Nunca se sabe. — O chefe gesticulou para o boxeador. — Mostre o andar de cima à senhorita e ao seu namorado índio.
Depois daquela frase, Halloway se acomodou na sua escrivaninha, despachando-os como o lixo da semana anterior.
Porém Arthur se recusou a dar tudo por terminado, não daquele jeito.
— Posso confiar em você, Halloway? Ou a minha família corre perigo?
Uma sobrancelha grisalha se ergueu.
— Eu não ataco mulheres e crianças. — Estendeu as mãos para alcançar o desumidificador do qual retirou um charuto, deslizou-o sob o nariz. — Quanto a você. — Ele fez uma pausa, arrancou as palavras para causar efeito. — Eu costumava admirar a cultura americana nativa antes de Borges infectar minha vista. Então, para ser franco, Aguiar, sua falta de respeito está começando a me irritar.
Lua alcançou o braço de Arthur, tentando dissuadi-lo da confrontação, e ele viu o tremor nos olhos dela, o aviso para que mantivesse a boca fechada.
Lua e Arthur seguiram o boxeador pela escadaria elegante, suas botas retinindo sobre o padrão preto e branco de azulejos caros. No topo da escada, um quarto do tamanho de uma suíte apresentava antigüidades impressionantes, uma enfermeira plantonista e uma jovem frágil perdida sobre uma cama.
Miguel emitiu um som angustiado, então arqueou em direção à sua mãe biológica, debatendo-se desconfortavelmente nos braços de Lua.
A enfermeira uniformizada, que fazia vigília numa cadeira acolchoada, olhou de relance do seu livro.
Lua sentou na cabeceira da cama, trazendo Miguel para perto de sua mãe.
— Pa... pa... pa. — Miguel deixou seu pônei cair na cama, oferecendo-o para Sophia. Pedindo, Arthur presumiu, que ela girasse a chave da corda, para tocar sua música favorita.
Os dedos fatigados de Sophia se arrastaram na direção do brinquedo, e Arthur percebeu que Lua piscava entre lágrimas.
Ninguém suspeitava quem Miguel era, que o pequenino era o herdeiro do infecto império de crimes de Enrique Halloway.
Porque Sophia mal conseguia manipular o brinquedo, Lua a ajudou. Quando a melodia irrompeu através do quarto estéril, Miguel se recostou em sua nova mãe e observou a antiga com olhos arregalados e sombrios.
Retorcido de emoção, Arthur pensou em Micael, sobre a perda da mulher, a perda do filho.
E repentinamente Arthur sentiu medo.
O quarto de hotel em Wilshire Boulevard era silencioso. Arthur sentou na cabeceira da cama e ficou imaginando o que dizer para Lua.
— Sophia estava tão debilitada — comentou Lua, sua voz trêmula. Ela se virou, olhou para Arthur. — Você acha que Miguel entende o que está acontecendo? Você acha que ele sabe que Anahí está morrendo?
— Miguel é muito pequeno para saber. As crianças não entendem nada sobre o que é morte. Especialmente bebês.
— Você está certo. Eu só estou... Obrigada por estar aqui, Arthur. Por ficar comigo.
Um nódulo se formou na sua garganta.
— Pensei em Micael hoje. A respeito das coisas que ele está perdendo.
Os olhos de Lua ficaram marejados.
— Não restou nada mais para ele.
— Ele tem você. Micael sabe que você vai cuidar do filho dele. — E aquilo pesou na sua mente o dia inteiro. Micael entregara o filho a Lua. Mas ele também entregara a criança para Arthur, da mesma maneira.
— Você quis mesmo dizer aquilo que você disse hoje cedo? — perguntou Lua.
— O que foi que eu disse?
— Que eu e Miguel somos sua família. — Ela hesitou. — Você perguntou a Halloway se a sua família estava a salvo. Eu e Miguel.
— É como se você fosse da minha família. Você está na minha vida desde que eu era garoto. E eu estou... — Arthur estancou, espiou o berço. — ... ficando Arthur.
Arthur não poderia se permitir ir tão longe, sentir aquilo profundamente.
— Eu quero fazer as coisas funcionarem — disse ele em troca. — Quero muito tentar.
— As coisas? Quer dizer, nós dois?
Ele concordou com a cabeça. Percebeu que tinha magoado Lua.
— Eu tenho medo de perder você. Temo que você vá embora de novo e não volte.
— Eu não vou embora.
— Mas você irá. Se nós não conseguirmos fazer com que as coisas dêem certo, você irá. — O que mais ele poderia oferecer além da sinceridade? O jeito racional com o qual encarava a vida? — Quando você desapareceu, quando eu soube que você me enganou deliberadamente, foi como se o meu pior pesadelo se tornasse realidade. Estava esperando que você voltasse. Eu não quero que você e Miguel partam no próximo mês. Eu quero que vocês fiquem.
— Quero isso, também.
— Mas você quer mais. Mais do que eu sou capaz.
— Você foi magoado. Isso vai levar tempo.
— A idéia de amar me apavora.
Os olhos de Lua se arregalaram.
— Você nunca disse isso antes. Você nunca admitiu... — A voz dela estancou.
— Eu vi o que isso fez com minha mãe. Ela passou a vida inteira sentindo falta de meu pai. Um homem que partiu seu coração.
— Você está com medo de que eu possa magoá-lo novamente?
— Você pode prometer que não vai fazer isso?
— Posso tentar.
— Me perdoe — desculpou-se Arthur. — Eu não devia ter tocado nesse assunto. Sophia provavelmente não vai passar desta semana, e Mica está lá fora, sozinho em algum lugar. Você já tem o bastante com o que se preocupar.
— Não se desculpe. Não agora. Não agora que você me pediu para ficar.
Ela deslizou para os braços dele. Arthur ofereceu consolo em uma noite devastada pelo pesar. Lua recuou, contemplou dentro dos seus olhos.
— Me toque, Arthur.
Ela precisava dele, Arthur deu-se conta. Apagou as luzes, acomodou Lua na cama e a beijou. Lua arqueava e suspirava, esticando o corpo com gestos felinos. Arthur a acariciava através da camisola, beliscando-lhe os mamilos, friccionando-os até se tornarem picos sensíveis. Então, ele abaixou a cabeça e sugou um deles com os lábios, deixando na seda uma marca úmida e morna.
Brincou com ela, como dedos escorregando pelas teclas de um piano. Abaixando as alças da camisola de Lua, Arthur fez a peça deslizar pelo corpo observando enquanto abraçava abaixo, suas curvas, até empoçar nas mãos dele.
A calcinha era apenas um fio de algodão e renda. Arthur a despiu, e Lua ergueu seus quadris.
Sem palavras, sem promessas, Arthur deu o que ela queria, o que precisava, beijando entre as suas pernas, fazendo com que Lua se comprimisse contra a sua boca.
— Arthur. — Lua suspirou seu nome, deslizou os dedos entre os fios da cabeleira dele.
Vagarosamente, deliberadamente, Arthur a levou até o orgasmo, doce e melado. Morno e úmido em contato com sua língua, o gosto dela preencheu seus sentidos.
Arthur se postou acima de Lua, arrancou o short e mergulhou dentro dela, movendo-se numa dança amorosa.
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