CAPÍTULO QUATRO
Lua não conseguia dormir. Não conseguia parar de pensar em Sophia e Mica, sobre ela e Arthur.
Sentia falta de Mica e Sophia, mas, de alguma forma, a saudade de Arthur era ainda mais forte. Sentia falta de ser sua parceira, sua amante, sua amiga.
Sentou-se no sofá da sala de estar, a pequena chama de uma lamparina ardia, e ergueu os joelhos para cima. Chester se aninhou ao lado dela. Estava meio adormecido, seus olhos caídos ainda mais arqueados.
— Você é um cachorro tão bom. — Afagou as orelhas, e ele se arrastou mais para perto, colocando a cabeça no colo de Lua. — Está se sentindo solitário?
Seu dono ainda não havia voltado para casa, e o relógio do aparelho de DVD já marcava 1h04m da manhã.
— Você dorme na cama de Arthur, não é? — Lua acariciou o pêlo espesso e áspero. — Eu costumava dormir lá.
E ela se lembrou, com saudades, de cada momento em que pôde estar perto de Arthur, acordar nos braços dele.
Então, ouviu a caminhonete dele. Chester levantou as orelhas, e a batida do coração de Lua retumbava contra o peito. Deveria fingir que estava dormindo? Afinal, ele a avisara para não ficar esperando e, ainda assim, ali estava ela, esperando por ele até tarde.
Não intencionalmente, mas estava acordada do mesmo jeito.
Uma chave foi introduzida na fechadura.
Tarde demais para fingir que estava dormindo. O cachorro abanou o rabo e começou a ganir.
Arthur entrou na casa, notando Lua e o cão imediatamente. O cachorro saltou do sofá para saudar o dono, e Lua endireitou a camisola. Ela não conseguia ficar tranqüila diante dele.
Arthur se curvou para receber a saudação afetuosa de Chester, mas seus olhos estavam fixos em Lua.
— Não esperava encontrar você acordada — disse ele.
— Não consegui dormir, e não queria perturbar o bebê.
Arthur ficou de pé, fazendo com que os hormônios dela entrassem em ebulição.
Lembrou-se de cada polegada do corpo dele: ombros largos, músculos bem talhados, quadris enxutos. No bíceps do braço direito, Arthur ostentava uma tatuagem em formato de bracelete, com feitío tribal marcado por traços cheios e negros. Quando menina, Lua era fascinada pela sensualidade rebelde de Arthur. Como mulher, ele jamais falhara em deixá-la sem fôlego.
— Fui até The Corral de novo — contou Arthur.
— Eu sei.
— E como você sabe?
— Ora, eu simplesmente posso dizer que sim. — Lua encarou-o, reparando a expressão minguante e meio desfocada dos seus olhos. — Você esteve bebendo.
— Eu não estou bêbado.
Lua sabia disso também, ele não costumava dirigir alcoolizado.
Arthur se escorou contra o móvel da televisão.
— Não sei o que fazer comigo mesmo. Parece uma maldição de tão complicado.
Com a ponta dos dentes, Lua despedaçou ainda mais as unhas arruinadas.
— Sinto muito ter causado tantos problemas.
— Eu vou superar tudo isso.
Será? Lua não tinha tanta certeza.
Mas ela nunca soube exatamente o que esperar de Arthur. Ele podia estar sorridente num minuto e absolutamente mal-humorado no instante seguinte. Ele mantinha alguns ângulos da sua personalidade sob segredo: lugares remotos e sombrios, lugares onde Arthur não permitiria que ninguém tocasse.
Lua quis iluminar aqueles ângulos obscuros, deslizar para dentro da alma de Arthur, do mesmo modo como ele penetrara a dela, mas falhou tentando.
Arthur largou as chaves sobre uma prateleira.
— Gostaria de saber onde ele está. Você faz idéia de onde ele se meteu?
Sabia que Arthur estava falando de Mica, e achou estranho que agora ele estivesse pensando no seu irmão. Micael e Arthur eram farinha do mesmo saco e, apesar disso, compartilhavam de uma relação de amor e ódio que Lua jamais compreenderia.
— Não, eu não sei. Mas espero ter notícias dele
Arthur sobressaltou-se.
— Como? Quando?
— Nós concordamos em fazer uma ligação. Temos uma data específica marcada. Lá pelo fim do mês.
Mica tinha necessidade de saber que o filho estava a salvo, que a criança da qual desistira estava feliz e saudável. A voz de Arthur se tornou amarga.
— Uma ligação? Quer dizer que ele pode ligar para você mas você não pôde ligar para mim todos esses meses?
Lua procurou não se irritar, não reagir ao volume da voz dele nem à frieza no seu olhar.
— Isso é diferente. Mica usará uma linha segura.
— De onde?
— Aqui. — Foi até a escrivaninha, sobre a qual o aparelho telefônico descansava. — Mica me deu um codificador igual ao que ele estará usando. Com uma unidade dessas, presa à extremidade de cada aparelho, nossa chamada será criptografada.
— E não importa se os telefones estiverem grampeados?
— Não, mas eu me sentiria mais segura checando se as linhas estão limpas, antes que ele ligasse. Caso o equipamento funcione mal, caso nos encontrem... — Deixou as palavras esvanecerem, desaparecendo na quietude da sala.
— Onde ele estava, da última vez que o viu?
— E isso importa? — Ficou olhando Arthur tirar a jaqueta, atirando-a de qualquer jeito sobre a cadeira. — A essa altura Mica já está na estrada de novo.
— Bons ventos o levem.
Como podia ser tão frio? Tão insensível?
— Eu queria que você não odiasse Mica tanto assim.
— E eu queria que você parasse de defendê-lo dessa maneira.
— Não posso. — Não depois do revés que atravessaram juntos, das lágrimas que derramaram. O que ambos sofreram quando adultos foi muito pior do que infância tumultuada.
— Mica é a única família que me resta. Ele e Miguel.
— Ele ferrou com nossas vidas, Lua.
— Por quê? Porque ele nos manteve afastados enquanto eu ainda era muito nova?
— Primeiro, eu não tinha permissão para sequer tocar em você. Depois, ele tentou me obrigar à força a casar com você. Micael tentou controlar cada aspecto do nosso relacionamento. Cada detalhe do que acontecesse entre nós dois.
— Mica fez isso? — Lua não era informada sobre as brigas entre Arthur e Mica, sobre as disputas aos empurrões que ambos se recusavam a discutir. — Mica estava errado, mas você também estava.
— Eu?
— Sim, você. — Ao menos, Mica se preocupava com ela. — Você não tinha o direito de banir meu irmão da minha vida. Apesar de toda sua grosseria, ele queria o meu bem.
— Ele estava se intrometendo em nossas vidas.
— Porque ele esperava que você se casasse comigo?
Arthur simplesmente olhava para ela, mas Lua percebeu que atingira um ponto nevrálgico.
— Era mais que isso.
— Era mesmo? — desafiou, mordida pela dúvida. Sempre suspeitara que Arthur não quisesse se casar com ela, que escarnecia da idéia sobre serem felizes-para-todo-o-sempre. Mas tudo aquilo que via nos olhos dele agora explodiu no seu rosto como uma bofetada.
— Seu irmão é um ex-presidiário. Um ladrão.
— Mica é um bom homem, confuso, mas bom. E você virou as costas para ele.
— Ah, é? — Arthur chegou mais perto. — Você acha que assumir o filho dele é dar as costas? Concordei em me tornar o pai daquele garotinho. Em contar para todo mundo que ele é meu filho.
Lua piscava sem parar, atordoada com a emoção na voz dele. Pelo simples impacto daquilo que Arthur estava dizendo. A criança que Mica lhe confiara era uma responsabilidade que não poderia recusar, um gesto de fraternidade Cherokee.
Arthur apertou as mãos dentro dos bolsos, e Lua sentiu os olhos marejados de lágrimas. Não podia deixar de pensar sobre o outro pônei.
O outro bebê.
Lua fora para a Califórnia carregando o filho de Arthur no ventre, porém nunca contou nada sobre isso a ele, nunca aceitou o que acontecera à criança.
Tinha suas razões para deixar a cidade sem contar que estava grávida. Razões que a machucavam agora, tanto quanto no dia em que embarcou naquele avião com destino a Los Angeles.
Arthur se virou na direção da janela.
— Isso me dá arrepios.
Lua seguiu o olhar dele. O que Arthur estaria vendo? Flores recobertas de névoa? Um céu enluarado? Colinas sombrias?
Na sua imaginação, Lua vislumbrou uma sepultura. Um fardo envolto em couro, dentro de uma pequena caixa de madeira.
— O que você quer dizer? — inquiriu Lua.
— Toda essa confusão com a Máfia. É como se a noite tivesse olhos.
— Não tem ninguém lá fora.
— Como você pode ter certeza?
— Para ser sincera, não tenho — admitiu.
Arthur trocou de posição para observá-la melhor.
— Como você conseguiu viver assim durante um ano e meio? Como você agüentou tudo isso?
— Eu não tive escolha. — Pensou no filho deles novamente, o ser pequenino que ela embalou em seu útero.
Arthur passou a mão pelos cabelos.
— Queria que as coisas tivessem acabado de um jeito diferente.
— Eu também — murmurou Lua, enquanto Arthur distanciava o olhar, deixando-a só com suas memórias. E um coração atormentado pelo remorso.
Três dias depois, Arthur praguejava a plenos pulmões. Enquanto Lua terminava de se maquiar, ele esfolou o queixo com a lâmina de barbear.
Droga, ela precisava ser tão bonita? Tão esguia? E ter as pernas tão compridas?
O seu tempo no banheiro já deveria ter acabado, mas ela entrou correndo de volta, insistindo que aquilo só levaria um minuto, que o rímel manchara.
Costumavam compartilhar espaços confinados sem se atrapalhar, mas as coisas eram diferentes agora. Eles eram ex-amantes.
— Estou ansiosa para conhecer a esposa de Paco — comentou Lua, esfregando um chumaço de algodão logo abaixo dos olhos.
Arthur não respondeu. Sua primeira aparição pública juntos, e também a primeira ocasião para se portarem como um casal em reconciliação, como os pais de um bebê de 10 meses.
Concordara com a farsa, e agora estava sendo obrigado a desempenhar seu papel. De que maneira deveria se comportar? Será que perceberiam seu desconforto? Seu ardente desejo por uma mulher que o magoara?
Terminou de se barbear e se virou para espiar Lua. Seus cabelos escorriam como uma cascata, e o decote discreto da blusa revelava apenas um indício da fenda. Uma saia cintilava nos seus quadris, enquanto um cinto largo de couro branco abraçava sua cintura.
E o seu rosto. Aqueles brilhantes olhos castanhos. Aqueles lábios viçosos e cheios!
— Que inferno! Como vamos levar isso adiante? — indagou Arthur, preocupado.
— Quer dizer esta noite?
— Provavelmente, haverá um bocado de tensão entre nós a noite inteira. Estamos muito longe de nos entendermos.
Calada, Lua olhou para as pontas dos dedos. Havia lixado e pintado as unhas, mas elas ainda pareciam em farrapos, pensou Arthur. Roídas até o sabugo.
Obviamente, ela também estava nervosa. Tão apreensiva quanto ele.
— Talvez devêssemos nos beijar — sugeriu Lua.
O ritmo cardíaco dele subiu como um rojão.
— O quê?
Ela baixou a voz, quase tímida.
— Para nos acostumarmos um ao outro de novo.
Arthur quis gritar com ela, dizer que só poderia estar maluca. Mas enquanto ela umedecia os lábios, um calafrio ardente e viscoso lhe percorreu a espinha.
— Você acha mesmo que vai funcionar? — perguntou ele, estupidamente.
— Nós podíamos tentar.
Claro, tentar. A essa altura Arthur faria qualquer coisa que reprimisse seu apetite por Lua.
— Só desta vez — ele avisou.
Lua umedeceu os lábios de novo.
— Tudo bem.
Arthur inspirou profundamente e seu olhar pousou no dela. Subitamente, seus reflexos reluziram-se no espelho. Costumavam fazer comentários travessos a respeito de colocar espelhos no teto. E fazer amor impetuosamente, enquanto assistiam um ao outro.
Os céus me protejam, pensou Arthur. Eu não deveria estar fazendo isso.
Mas ele fez, assim mesmo. Inclinou-se sobre Lua, sentindo sua fragrância, o perfume adocicado da sua pele.
Arthur desejou tocá-la por inteiro, mas recuou, temendo que pudesse estar indo longe demais.
Mas, ao contrário, foi Lua quem tocou Arthur. Passando os dedos entre os cabelos do rapaz, atraiu para si os lábios dele, comprimindo-os intensamente com os seus.
Arthur recuou. As línguas apenas se encaixaram de leve, seus corpos quase não se tocaram.
Capturou o olhar de Lua no espelho, e o ritmo da respiração dela se acelerou.
Arthur notou que os bicos dos seios dela estavam rijos. Mas Lua possuía mamilos sensíveis. Ela ficava facilmente estimulada.
Assim como ele.
— Preciso terminar de me arrumar — disfarçou Arthur, acenando com as mãos para que ela saísse, tentando se livrar dela.
Ressentida, Lua recuou.
— Vou ver se Miguel está bem. — Virou as costas para sair, mas estancou na porta. — Arthur?
— O que é?
— O beijo ajudou? Pelo menos um pouco?
— Não — replicou Christopher. Aquilo só fez com que a quisesse ainda mais, desejando ter o que não deveria.
E agora, raios, não conseguia pensar em mais nada a não ser imaginar como Lua se sentia a seu respeito.
Isso importava?
Não era nada fácil corresponder às fantasias de contos de fada que Lua inventava. Ele não era seu Príncipe Cherokee Encantado. Não poderia ser qualquer coisa para Lua.
E assim, em uma evolução ao inverso, Arthur se transformara naquele bastardo insensível.
— Eu pensei que talvez... Eu esperava que... — As palavras minguavam, e Lua saiu do aposento, deixando Arthur só.
Com o coração disparado.
Com o espelho.
Com uma imagem de si mesmo que ele desejou despedaçar em milhares de fragmentos.
O jantar fora cuidadosamente preparado, com um bufê na cozinha e um arranjo informal na sala de estar, destinado aos jantares casuais.
A decoração apresentava gravuras astecas e móveis rústicos de pinho. Flores, almofadas e velas davam um toque aconchegante ao ambiente.
Lua, Arthur e Miguel eram os únicos convidados, mas havia comida suficiente para uma segunda, terceira ou quarta porção.
Lua saboreou uma infinidade de saladas, experimentando uma mistura um tanto exótica de verduras e frutas. Enrolar os tacos manteve a todos ocupados, e a guacamole deixou Miguel impressionado. O menino suplicou pelo prato de Lua, ignorando sua delicada refeição de bebê em troca de colheradas generosas da guarnição suavemente temperada.
Enquanto seu bebê cochilava no fim do corredor, Paco e sua mulher, Julianne, demonstravam afeição fisicamente. Ele colocou a mão sobre o joelho dela que, por sua vez, inclinou a cabeça sobre seu ombro.
Lua não se lembrava de um tempo em que ela e Arthur estivessem tão satisfeitos.
Apaixonados, sim. Mas relaxados...
Não importa quantos anos passaram juntos, eles nunca ficaram completamente tranqüilos. Porque ela amava, e Arthur não.
— Seu filho é uma gracinha — comentou Julianne.
Lua levantou os olhos e sorriu para a esposa de Paco.
— Obrigada.
Arthur não havia prestado atenção ao elogio, não até que Paco acrescentou:
— O sujeitinho parece com você, Thur.
— Você acha? — Olhou de relance para Miguel, que engolia o molho picante.
— Sim, eu acho. — Paco saiu de sua cadeira e examinou Miguel de alto a baixo, fazendo a criança gargalhar.
O coração de Lua se encheu de culpa. Se ao menos Arthur também pudesse desfrutar da mesma liberdade com Miguel.
— Ele é simpático assim com todo mundo? — quis saber Paco.
— Acho que sim. — Lua observava enquanto o bebê animava o novo tio. — Ele gosta das pessoas. Sei que é uma boa qualidade, mas faz com que eu me preocupe em relação aos estranhos. — Com a Máfia, caso a verdade fosse descoberta, pensou ela.
Obviamente, nenhum mal aconteceria se ela e Arthur não levantassem suspeitas, se eles pudessem se enquadrar no padrão normal de família.
— Eu não acho — disse Arthur.
— Não acha o quê? — indagou Paco, imitando o barulho de um avião para Miguel, que o arremedava com mímicas.
— Não acho que Miguel se pareça comigo.
O silêncio inundou a sala, e Paco simplesmente cravou os olhos em Arthur. Lua se remexeu no assento. Primeiro aquele beijo humilhante, e agora isso. Arthur aceitou assumir o filho de Mica, mas não parecia lá muito preocupado em proteger aquela atitude. Sobre...
— Ele é mais bonito do que eu. — Arthur se levantou, dissipando a tensão. — E você não é mesmo, parceiro?
Percebendo o estrago, se dirigiu para o menino e Miguel se lançou ao seu encontro. Mas, alguns segundos depois, Miguel quis voltar para os braços de Paco.
Outro momento esquisito, Lua pensou consigo mesma. Miguel percebeu qual dos dois homens se sentia mais confortável em segurá-lo.
— Você realmente tem um forte instinto paternal. — Arthur recuou, abandonando a criança com o tio.
— Você está brincando? Eu morri de medo no começo. — Paco manteve a voz suave, em tom de provocação. Olhou para a esposa buscando cumplicidade. — Não é verdade?
— Petrificado. Mas, principalmente, durante o estágio da gravidez.
— Perdi essa parte. — Isto, partindo de Arthur, que se virará para espiar Lua.
Ela se esforçou ao máximo para agüentar o olhar do rapaz. Não queria pensar a respeito da gravidez. Sobre o fluxo da vida. O aconchego dos pequenos chutes.
Contemplou o pônei de Miguel. Ele trouxera consigo o brinquedo, que agora estava jogado no chão, a crina de fios dourados derramada sobre uma almofada.
O outro pônei estava dormindo, imaginou Lua. Dormindo com os anjos.
— Você quer ver o quarto do bebê? — convidou Julianne. Lua colocou o prato na mesinha de café.
— Não vamos acordar o menino?
— De jeito nenhum. Ele continuaria dormindo mesmo com um tornado lá fora. Claro que quando acorda faminto ele é um tornado.
Lua sorriu. Era reconfortante ouvir outra mulher falar sobre seu filho. Ela havia segurado o bebê de Paco e Julianne mais cedo, naquela noite, e a criança era tão bonita quanto o próprio nome — Brendan Robert Elk. Ou Pequeno Corvo, como era chamado carinhosamente.
— Adoraria ver o quarto de criança.
O cômodo era claro e alegre, com um berço vermelho e branco, um padrão degrade na roupa de cama, e maçãs-do-amor aplicadas à mão nas paredes. Havia ursos de pelúcia em cada canto.
O bebê, que realmente se parecia com um pequeno corvo, dormia pacificamente, tufos ralos de cabelo negro sobressaíam na pele de bronze.
Distraída, Lua olhou em volta.
— O quarto é maravilhoso. E todos esses ursos...
— Paco traz um para casa a cada semana. — Julianne apontou para uma prateleira cheia. — Acho que já estamos ficando sem espaço.
Lua e Julianne ouviram uma ligeira arfada, e se viraram na direção da porta.
Paco entrou no quarto com Miguel, e os olhos do menino se arregalaram, crescendo até ficar do tamanho de dois pires.
O anfitrião balançou o jovem sobrinho.
— Acho que alguém ficou impressionado.
— Parece que sim. — Lua nunca vira Miguel tão estupefato. Era natural, já que jamais havia visto um quarto especialmente arrumado para uma criança. Tudo o que ele conhecia eram carros, acampamentos e motéis baratos.
E a casa de fazenda de Arthur, claro. Um lugar onde não fora recebido com muitas honras.
Só então Lua passou os olhos por Paco e viu Arthur. Estava encostado no canto, com uma expressão defensiva.
Miguel arfou novamente, e Paco beijou sua bochecha gorducha.
— Você pode vir aqui brincar a hora que quiser — disse ao menino.
— Obrigada — murmurou Lua. Mica ficaria muito satisfeito, muito feliz em saber que Miguel tinha um tio que o adorava.
Mica admirava Paco Elk, e por um bom motivo. Ele havia concedido a Mica o mesmo apoio que dera a Arthur. Sem Paco, o irmão de Lua estaria completamente perdido.
De alguma forma, Lua sabia que Paco não faria a menor distinção se lhe contasse que Miguel era filho de Mica. Não que devesse fazer isso e, afinal, ver Paco com Miguel aquecia seu coração da mesma forma.
— Que tal um café? E suco para Miguel? — Julianne comandou todos de volta para a sala de estar.
Miguel tomou sua mamadeira, adormecendo logo depois sobre a almofada, ao lado do pônei.
Enquanto o bebê dormia, Lua tomou um gole de café e conversou com Julianne e Paco.
Arthur, ao contrário, permaneceu calado durante o resto da noite. De vez em quando, procurava pelo olhar de Lua, mas a moça não tinha pistas acerca do que ele estava pensando. Nenhuma pista mesmo.
...
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